sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Sonetos de Vinicius de Moraes

SONETO DO AMOR TOTAL

Rio de Janeiro , 1951

Amo-te tanto, meu amor... não cante 
O humano coração com mais verdade... 
Amo-te como amigo e como amante 
Numa sempre diversa realidade 

Amo-te afim, de um calmo amor prestante, 
E te amo além, presente na saudade. 
Amo-te, enfim, com grande liberdade 
Dentro da eternidade e a cada instante. 

Amo-te como um bicho, simplesmente, 
De um amor sem mistério e sem virtude 
Com um desejo maciço e permanente. 

E de te amar assim muito e amiúde, 
É que um dia em teu corpo de repente 
Hei de morrer de amar mais do que pude.

SONETO A QUATRO MÃOS

12/8/1945

(com Paulo Mendes Campos) 

Tudo de amor que existe em mim foi dado. 
Tudo que fala em mim de amor foi dito. 
Do nada em mim o amor fez o infinito 
Que por muito tornou-me escravizado. 

Tão pródigo de amor fiquei coitado 
Tão fácil para amar fiquei proscrito. 
Cada voto que fiz ergueu-se em grito 
Contra o meu próprio dar demasiado. 

Tenho dado de amor mais que coubesse 
Nesse meu pobre coração humano 
Desse eterno amor meu antes não desse. 

Pois se por tanto dar me fiz engano 
Melhor fora que desse e recebesse 
Para viver da vida o amor sem dano.

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